Cabo-Verde (Lá)

Quisera-te eu esquecer
Nas minhas ideias
Este amor escondido que trago comigo
Deixei perdido o sonho que vivi

O tempo sabe a mar e a saudade
É lembrança que sempre fascina
É reviver em mais um bocado
Esses momentos de estima



Tenho em mim palavras que crescem de saudade e nostalgia, muitas palavras ansiosas. As palavras, a linguagem, serve para exprimir sentimentos, estados de alma, atitudes interiores, um sentido.


Senti Cabo-Verde, foi o amor, a angustia, a ansiedade, o misticismo, a esperança, o Além e o Aquém, foi numa palavra a poesia, um encontro com o mundo imaginado, talvez esse o mais real e portanto o mais apetecido.


Rodeado de mar, seu confidente e motivador de infinitos, esperanças e sonhos, oferecendo o seu horizonte sublime de fascínio e liberdade em troca da sua contemplação – trazendo até nós uma paz divina azul e fresca, uma ternura que nos permite cantar de uma forma muito própria, inovadora e sentida, o amor, a natureza e as contradições do homem – os nossos desejos adormecidos dos dias sempre iguais, vontades metafísicas várias, perdidas algures, nos cantos mais esquecidos e desprezado das ruas, das praças, dos campos, das casas e dos empregos que nos alienam.


Lá, o Sol tão evidente e belo, o azul do céu e do mar de uma tarde física deveras enriquecedora, até para os seres menos atentos a esta poesia, bela e apaixonante.


Eu não sei bem, se para ser compreendido preciso de dar ou não certas explicações prévias… Limito-me a declarar modestamente, que todos eles ou quase todos, brotaram a ternura do fiel amante iluminado. Senti o erotismo desta viagem, o alimento do prazer desejado à muito procurado. Senti a partilha com o Outro – nosso irmão de vida-viagem – o que de mais nobre existe: uma vontade existencialmente doce, campestre, sonhadora, plena de paz, produtiva de esperança e tão cheia de amor.


Percorrer estas ilhas é como beijar a vida a passar, se não sabem entender como poderão delas falar?


Fiquei feliz, e às musas agradecido por me terem proporcionado esta viagem.







RODRIGUES, Fernando – "A Cabo-Verde (Lá)", in HESPÉRIDAS – Revista de Cultura Cabo-Verdiana, nº 2, Outubro de 1993, pp. 16-17.